domingo, 30 de outubro de 2011

Ensaio Sobre A Cegueira, De José Saramago

Contexto
Publicado inicialmente em 1995, a obra mostra o caos que se chega quando um dos sentidos falta a uma grande parcela da população. Evidencia uma epidemia de cegueira que atinge toda a população.

Intitulada Ensaio, a obra de Saramago critica os valores sociais, mostrando-os frágeis, pois onde ninguém vê, teoricamente nada aparece, elucidando que os valores, sejam morais ou materiais, são atribuições que homem faz. Neste contexto, a obra mostra desde aventuras sexuais, o pudor, que já não existe porque não é visto, até à imundície que se instala por toda a cidade.

Resumo
O Ensaio sobre a cegueira  é uma crítica aos valores sociais, expondo o caos a que se chega, quando a maioria da população cega. Revela traços da sociedade portuguesa contemporânea, vislumbrando a maneira como as pessoas vivem através de suas descrições das casas, dos utensílios, das roupas. As personagens não têm nomes, sendo descritas por características próprias – o primeiro cego, o médico, a mulher do primeiro cego, a rapariga de óculos, entre tantos outros que aparecem no desenrolar da narrativa, onde uma epidemia se alastra a partir de um homem que cega esperando o semáforo abrir.

Inexplicável é a imunidade da mulher do médico, parecendo que sua bondade, sua preocupação com o marido, mesmo convivendo entre os cegos sem medo de cegar, a impede de contrair a moléstia. Mas a solidariedade da mulher do médico estende-se, ainda, àqueles de convívio mais estrito, sendo verdadeiro anjo de guarda dos que dividem com ela a enfermaria do hospício abandonado em que são confinados os primeiros a contrair o mal.

De característica onisciente (o que sabe tudo,
Ciente do todo; a todo tempo,O que a tudo compreende), a narrativa leva-nos a refletir sobre a moral, os costumes, a ética e o preconceito, pois faz com que a mulher do médico se depare com situações inadmissíveis às pessoas em condições normais. Exposta à sujeira, a uma existência miserável em todos os sentidos, ela mata para preservar a si e aos demais, e se depara com a morte de maneira bizarra após a saída do hospício: os cadáveres se espalham pelas ruas, o fogo fátuo aparece debaixo das portas do armazém onde, dias antes, ela buscou víveres.

A igreja com os santos de olhos vendados pode ser caracterizada como um dos momentos poéticos da obra: se os céus não vêem, que ninguém veja, numa alusão velada às idéias do filósofo Friderich Nietzshe, "se deus está morto, então tudo posso".
Saramago ainda brinca com a imaginação do leitor nas últimas linhas, deixando implícita a cegueira daquela que foi a única que viu em meio à treva branca, justamente no momento em que todos recuperam, aos poucos, a visão.

Estilo
 Pode-se afirmar que a obra é difícil de ser lida não apenas pelo seu contexto filosófico, mas pelo estilo de José Saramago: as falas entre vírgulas forçam o leitor a um verdadeiro mergulho em suas idéias, pois é impossível parar em meio às idéias do autor. A desconstrução do tempo linear em suas idas e vindas nas memórias das personagens, as características únicas, a mesquinhez presente evocam a reflexão sobre os valores que cada um de nós tem da vida, da moral, dos costumes e até mesmo do que nos é caro: onde está a mãe do menino estrábico? Cegou, morreu? A rapariga de óculos que, em princípio, parece não ter valores, mostra-se filha amorosa, amiga e uma mulher capaz de amar, não pela beleza física, mas pela ternura que as situações a levam.

Personagens
As personagens não caracterizadas por seus nomes, mas por particularidades. Podemos destacar como personagens principais os ocupantes da camarata (Conjunto de camas em um só compartimento em colégios, hospitais, quartéis etc) onde estavam o médico, o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, a rapariga de óculos e o velho com a venda num dos olhos.

Como personagens secundários ou coadjuvantes, os cegos que promovem o levante para a redistribuição da comida, aqueles que encontram-se na camarata do cego que tem uma arma, o cego que escreve em braile, a mulher que estava com o cego que tem a arma no momento em que este é assassinado pela mulher do médico, o ladrão, os soldados, entre tantos outros.

ORTOGRAFIA - DICAS